Sinopse: Stephen Strange havia desaparecido assim como metade da população. Cinco anos haviam se passado e por mais que tudo indicasse que sua existência havia se extinguido, ela não conseguia se conformar. O procurava em todas as dimensões, chamava por seu nome em seus sonhos e se esforçava para dominar cada vez mais as artes místicas e provar que ele não havia errado em confiar a ela o Sanctum de New York.
Um chamado inusitado faz com que ela se junte aos Vingadores e o fio de esperança de trazer seu amado de volta arde como chamas dentro de si.
Doctor Strange já não era mais seu vício, era seu grande amor e ela faria qualquer coisa pelo Mago Supremo.
Gênero: Romance, Ação
Classificação: 12 anos.
Restrição: Doctor Strange é fixo e é o personagem principal. Continuação de My Strange Addiction. A história se passa durante os eventos de Guerra Infinita e Ultimato e contém alguns spoilers.
Beta: Rosie Dunne
Encarei meu reflexo no espelho, focando o olhar em meus cabelos um pouco mais longos do que eu costumava deixar. As olheiras profundas denunciavam todas as noites que eu havia passado praticamente sem dormir. No entanto, por mais que eu tentasse, não conseguia estendê-las.
Todas as vezes em que deitava minha cabeça no travesseiro, minha mente era invadida por lembranças dolorosas. Cada uma delas era boa e fazia com que eu sorrisse, mas meu coração se apertava e a ferida deixava claro que ainda não estava cicatrizada. Depois de tanto tempo, eu duvidava que fosse possível.
Eu diria que era uma eternidade, mas outras pessoas diziam ser menos.
Fazia cinco anos que eu protegia o Sanctum de New York sozinha.
Cinco anos que Stephen Strange havia bagunçado tudo dentro de mim e se tornado meu maior vício.
Cinco anos em que uma carta havia sido deixada e sua caligrafia me pedia para que não me preocupasse, que em breve nos veríamos novamente.
Como era possível que o Mago Supremo pudesse ter errado daquela forma? Ele jamais voltaria para o Sanctum, para mim.
— Onde você está, Stephen…
Suspirei, notando que meus olhos haviam se enchido pelas tão conhecidas lágrimas e eu não sabia ao certo o motivo de continuar tentando depois de três grandes perdas em minha vida, mas ali eu estava, enxugando minhas bochechas e saindo de meu quarto, deixando que a luz do dia tocasse minha pele.
Eu sempre acreditei em você.
Por mais que aquelas palavras não tivessem sido exatamente ditas, mas sim lidas, eu conseguia ouvir a voz dele soprá-las em meus ouvidos.
Abri um sorriso, mais uma vez me forçando a acreditar que de alguma forma as coisas ficariam bem. Que a ausência dele doeria menos ou que ele encontraria um jeito de voltar para mim. Strange sabia o quanto eu odiava ficar sozinha, o quão frias as coisas podiam ser quando eu estava daquela forma.
Segui para a sala de leitura, buscando mais um livro sobre projeção astral e me sentei na poltrona de sempre. Não ousava me sentar na que era dele, afinal, eu preferia alimentar aquela esperança dolorida de que ele surgiria do nada, onde quer que eu estivesse.
Era absurdamente irônico que eu tivesse adquirido o gosto pela leitura depois que Stephen havia desaparecido. Assim como foi quando eu finalmente tomei a atitude de beijá-lo, horas antes de ele precisar partir.
Meu timing realmente era impressionante.
Depois de algumas páginas lidas, descansei o livro sobre a mesinha, então relaxei sobre a poltrona, respirando fundo e me concentrando para partir para o plano astral. Eu já havia dominado aquela prática, bem como outras vertentes das artes místicas.
Gostava de vagar daquela maneira porque assim não precisava interagir com outras pessoas. O meu propósito era encontrar Stephen, então eu me utilizava daquela ferramenta, bem como da dimensão espelhada, embora não a achasse segura o suficiente.
Senti que havia algo de diferente no ar, mas não fazia ideia do que era. Provavelmente, era apenas mais um de meus delírios.
Flashback on
Sem mentira alguma, já devia fazer no mínimo uns quarenta minutos que eu encarava o nada enquanto posicionava uma das mãos no ar e girava a outra, onde havia um dos objetos que eu mais ansiei obter: o anel de acesso.
Estava aprendendo já há alguns dias a arte de abrir portais e a frustração me acompanhava desde então. Não importava o quanto eu tentasse, nada acontecia. Mesmo quando eu fechava meus olhos e reunia a maior quantidade de foco, concentração e determinação que eu podia, eu ainda permanecia olhando para o nada.
Soltei um grunhido alto, parando tudo o que eu fazia e encarando o chão, prestes a me atirar ali e chorar feito uma criança.
— Menos de uma hora. Achei que hoje você duraria mais — Stephen observou, e eu encarei sua silhueta encostada sobre um pilar a poucos metros de mim.
— Se você de fato me ensinasse como abrir esse maldito portal, não seria questão de durar ou não — resmunguei, lhe lançando um olhar de pura irritação.
— É, não posso negar que seria um bom argumento — o sentimento de triunfo foi maior do que a surpresa por ele concordar comigo e eu abri um sorriso tão presunçoso quanto o que ele sempre me lançava.
— Claro que não pode — então me dei conta de uma coisa. — Seria? Como assim seria? — estreitei meus olhos em sua direção, então Strange riu baixo, se desencostando de onde estava e se aproximando de mim.
Tentei repetir para mim mesma que toda a agitação que eu sentia e aumentava a cada passo que ele dava para perto de mim era apenas fruto da minha irritação com a forma como Stephen sempre parecia saber de tudo e eu nada.
Aquilo me deixava nervosa, meu rosto pegava fogo e eu queria avançar nele para estapear sua cara, ou pelo menos era isso que eu dizia a mim mesma que queria fazer. Quem sabe uma hora eu conseguiria me convencer.
— Sim, seria — repetiu, calmamente. — Mas não é o caso, já que estou, de fato, te ensinando como abrir “esse maldito portal” — deu ênfase na forma como eu havia falado, nitidamente tirando sarro da minha cara.
— Você é péssimo, Master Strange — provoquei, vendo-o estreitar os olhos para mim.
— Doctor — me corrigiu, mesmo sabendo que eu havia feito de propósito.
— Que seja — fiz um gesto de quem não ligava. Stephen soltou um muxoxo, então respirou fundo, como se ignorar minha teimosia fosse uma tarefa árdua.
— Abrir portais não é uma questão de técnica, muito menos exige toda a concentração que você se esforça tanto para ter — ele não parou de caminhar quando chegou até onde eu estava, continuou caminhando e por um segundo imaginei que ficaria tonta o acompanhando me rodear daquele jeito.
— Ah, não? — questionei, cruzando meus braços e arqueando a sobrancelha.
— Não — Strange respondeu, paciente, e confesso que aquilo me desmontou um pouquinho. Por mais irritada e abalada que eu estivesse, talvez devesse levar as coisas um pouco mais a sério. — Então qual é o meu problema? Por que eu não consigo nem uma mísera faísca de portal? — coloquei para fora a minha frustração.
— Você precisa abrir sua mente e confiar em si mesma, . Se a cada tentativa você começar pensando no fracasso, o resultado não tem como ser outro — bufei, resignada. Estava claro que ele tinha razão. Minha teimosia também era outro problema, já que em vez de eu me corrigir ficava jogando na cara dele que não estava me ensinando.
Como alguém ensina uma pessoa que não quer aprender?
Como ele conseguia aturar alguém como eu, para começo de conversa?
— Tem razão — admiti, mas não sentia mais vontade alguma de continuar aquele treino e até mesmo aquela conversa. — Vou lembrar disso da próxima vez.
Algo murchou dentro de mim, o que era exatamente o oposto do conselho que Stephen acabara de me dar, mas eu não tinha controle sobre aquilo.
— Que vai ser agora. Ou você acha mesmo que o treinamento de hoje acabou? — arqueou uma sobrancelha para mim.
— Strange… Hoje não dá mais — suspirei.
— E para onde foi a garota que entrou pelas portas desse Sanctum dizendo que não era inofensiva? — não entendi o porquê, mas senti vontade de chorar ao ouvir aquilo.
— Eu não faço ideia, mas ela não está aqui. Talvez tenha resolvido se juntar à Grande Anciã — murmurei.
— Pois você irá descobrir que não só pode continuar, como vai achar graça do que acabou de dizer — analisei seu rosto, confusa e sem ideia alguma do que ele queria dizer.
Então Stephen Strange se virou, abrindo um portal e me puxando para que eu passasse com ele por ali.
Não soube o que me perturbou mais. Se foi a rapidez com que aquilo aconteceu, se foi o cheiro dele invadindo minhas narinas ou se foi a sensação de abafamento e agonia quando o cheiro de enxofre adentrou minhas narinas.
Ele havia mesmo me levado para um vulcão?
— Mas que droga é essa, Strange? Isso não tem graça nenhuma — resmunguei, olhando ao meu redor, incrédula. Estávamos sobre uma rocha que me parecia prestes a desabar. Na verdade, aquele vulcão inteiro parecia prestes a entrar em erupção e destruir tudo ao redor dele.
— Não estou brincando, . Considere isso como uma prova. Você tem… — olhou para o pulso, como se tivesse um relógio invisível ali. — Uns três minutos antes disso tudo ir pelos ares. Eu agiria rápido se fosse você. Imagino que a dor seja bem desagradável.
Então ele voltou pelo portal recém aberto e sumiu.
Simplesmente desapareceu.
E me deixou sozinha na porcaria de um vulcão em erupção.
— Strange! — gritei, apavorada e possuída de ódio ao mesmo tempo.
Que droga era aquela?
Como ele esperava que eu saísse dali se não conseguia abrir aquela droga de portal?
Eu ia morrer naquele lugar.
Se eu não soubesse que o chão desabaria a qualquer momento, com toda certeza estaria andando de um lado para o outro. Minha garganta se fechou em um nó pelo pânico e eu tentei puxar o ar e soltá-lo devagar a fim de me acalmar e me concentrar no que precisava fazer para me salvar.
— Concentração não é a chave. Confiança é a chave — repeti os ensinamentos dele, mas como alguém acha confiança quando está prestes a morrer?
Era isso. Eu morreria durante um treinamento estúpido e a minha sorte era que eu não tinha ninguém no mundo além de Stephen Strange para lembrar de minha morte ridícula.
— , a aprendiz mais ridícula que já existiu — recitei, ouvindo o barulho de algo rachando e sentindo que minhas unhas se afundavam nas palmas de minhas mãos.
Me posicionei, tentando mais uma vez abrir o portal, girando minha mão e tentando visualizar o Sanctum de New York. Fechei meus olhos e os apertei, buscando confiança no âmago de meu ser, mas quando voltei a abri-los tornei a encontrar o vazio.
O tempo era uma entidade cruel e sarcástica. Gostava de acelerar nos momentos mais cruciais de nossas vidas.
Mais um barulho de rachadura pôde ser ouvido e eu sabia que tudo acabaria naquele momento. Não sei dizer como, mas eu simplesmente tinha essa convicção.
Então o brilho anunciou o portal sendo aberto novamente e eu quase chorei de alívio quando percebi que Stephen havia voltado para me buscar.
Ao mesmo tempo, me senti completamente patética.
Ele esperava que eu conseguisse e eu havia o desapontado.
— Stephen… — abri a boca para implorar a ele por perdão porque eu era um fiasco e levei um segundo para perceber que ele não havia deixado o portal aberto para voltar por ele, como havia feito minutos atrás. — Por quê? — balbuciei.
— Porque eu acredito em você — me olhou de um jeito intenso que fez com que meu corpo inteiro se agitasse.
Então o chão tremeu sob nossos pés. Num impulso, me lancei sobre Strange, agarrando-o com minhas mãos no mesmo instante em que tudo desabou.
Nós dois estávamos a caminho dos braços da morte e tudo dependia de mim.
Stephen Strange era o Mago Supremo, o ser mais poderoso que eu havia conhecido e ele acreditava em mim a ponto de me confiar sua vida.
Isso devia significar alguma coisa, não devia?
Em uma fração de segundo, não apenas imaginei como visualizei o portal se abrindo. De alguma maneira, eu sabia que conseguiria daquela vez.
Se eu levasse um milissegundo a mais, seríamos engolidos pela lava, mas em vez disso desabamos no chão do Sanctum de New York.
Meu corpo não deixou de reagir à proximidade com Strange. Era engraçado como as coisas sempre pareciam contribuir para que caíssemos um por cima do outro.
— Você está bem? — questionei, notando a careta de dor dele, que havia recebido o impacto da minha queda sobre si.
— Não poderia estar melhor, minha estimada aprendiz — seu sorriso era radiante e então eu me dei conta do que havia acabado de acontecer.
— Eu consegui? — arregalei meus olhos e quando o sorriso de Stephen aumentou, senti que poderia chorar e gritar de felicidade. — Eu consegui! — exclamei, saindo de cima dele e me levantando para dar diversos pulos de alegria.
— É claro que conseguiu. Não esperava menos de uma aprendiz do Doctor Strange — ele disse, se levantando também. Em seu rosto estava estampada mais uma de suas expressões presunçosas.
— Mas um vulcão, Strange? Sério? — o minuto de glória sumiu por uns segundos para que eu pudesse estapeá-lo por me colocar naquela situação.
Flashback off
— Só queria que houvesse um portal capaz de me levar até você, Stephen Strange. Não importa se em um vulcão ou no meio do oceano — pensei, em voz alta, mesmo sabendo que aquilo não funcionaria. Não era a primeira vez que eu pedia algo para o universo e levava o mais doloroso vácuo em seguida. — Onde você está?
— .
Um frio percorreu minha espinha. Por um segundo fugaz, tive a impressão de que tinha acabado de ouvi-lo chamar meu nome. No entanto, aquilo não era possível, não tinha como ser. Por mais que eu insistisse que Stephen estava apenas em um lugar de onde não conseguia sair, tudo apontava que sua existência havia sido eliminada, assim como metade da população.
Definitivamente, era coisa da minha cabeça. Ou alguém tentando me pregar peças.
Me pus em estado de alerta, preparada para deixar o plano astral a qualquer momento.
— — ouvi novamente, após alguns segundos, no exato momento em que pensei em relaxar.
Olhei à minha volta, com certeza era uma tentativa estúpida de me enganar, possivelmente um ataque ao Sanctum.
Então encontrei a forma astral de Stephen Strange parada ao lado da poltrona onde ele costumava fazer suas leituras.
Abri minha boca, tentando encontrar palavras e até minha voz, porém nada saía. Eu estava em choque, tomada pela emoção.
Ele estava vivo?
— Stephen… — não soube se aquilo foi um sussurro ou apenas minha cabeça ecoando seu nome em meus pensamentos.
— , me escute. Não temos muito tempo — sua expressão estava um tanto séria.
— Mas como… como você está aqui? — balbuciei. Ele precisava me dar uma explicação. Eu estava feliz, mas também extremamente confusa.
— Prometo que você vai entender mais tarde — consegui notar que era algo realmente urgente, mas não conseguia me conter.
— Você já me prometeu coisas para o futuro, Strange — o acusei, segurando a vontade de chorar que subiu pela minha garganta.
— Eu sei — ele suspirou. — Mas eu preciso da sua ajuda. Preciso de você.
— Você precisa? — fiquei abalada, principalmente porque ele não estava realmente ali.
— Há uma chance de todos serem salvos. Apenas uma. Preciso de você ao meu lado contra o exército de Thanos. Traga com você a maior quantidade de feiticeiros que conseguir — pediu, e saber que ele confiava em mim àquele ponto foi o suficiente para que eu não o questionasse mais e expulsasse aquele bolo de minha garganta.
— Não irei decepcioná-lo, Strange — prometi, vendo-o sorrir.
— Sei que não. Nos veremos em breve — piscou para mim e num impulso senti que mais três palavras precisavam ser ditas.
Vacilei por meio segundo e foi o suficiente para que eu perdesse minha chance. Stephen havia desaparecido outra vez.
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