Sinopse: Hansol nunca foi o tipo de pessoa com auto confiança de sobra, longe disso. Ele trabalhava duro para acreditar em si mesmo, que estava fazendo alguma coisa certo. Ainda bem, não estava sozinho nessa batalha. Tinha ao seu lado a garota que amava.
Classificação: 16 anos.
Gênero: Romance.
Restrição: Hansol Vernon (Seventeen) è fixo. Os garotos do BTS também fazem pequenas aparições, todos fixos.
Beta: Alex Russo
— Está tudo bem, eu estou aqui agora, estou aqui… — dizia para o garoto deitado em seus braços na cama que dividiam há meses. Não era a primeira vez que ela precisava ajudá-lo com uma crise de ansiedade, mas a verdade era que, não importava quantas ela já houvesse presenciado, seu coração sempre ficava igualmente partido quando as inseguranças de seu namorado ameaçavam devorá-lo tão intensamente que ele era tomado por sintomas físicos e dolorosos. — Está tudo bem, meu amor. — ela murmurou, suspirando e apoiando a cabeça no topo da dele quando Vernon se virou de frente para ela, lhe abraçando melhor dessa maneira.
Vernon não respondeu, mas não esperava que o fizesse. Seria o suficiente para ela se o ritmo de sua respiração normalizasse, se ele adormecesse e embarcasse em direção a um mundo de sonhos, em que ele fosse capaz de se sentir tão incrível quanto verdadeiramente era.
e Vernon estavam juntos há pouco mais de um ano agora e, há cerca de três meses, decidiram morar juntos. Vernon era membro de um grupo mundialmente conhecido, ele sequer passava muito tempo em casa e acabou fazendo sentido que, ele passasse esse tempo, o pouco que fosse, com ela. Na casa deles.
Eles se completavam como sequer notavam, todos diziam. Os dois tinham as mesmas fragilidades, nem mesmo de frente ao espelho mais honesto de todos conseguiam acreditar na beleza que havia em si, e, principalmente, em sua capacidade, seu potencial, mas Vernon era ainda pior do que . Ela nunca sequer se imaginara com alguém como ele, mesmo tendo se apaixonado desde a primeira vez que vira algo do Seventeen. sempre fora uma pessoa muito prática: Para ela, as coisas ou eram ou não eram, simples assim. E ela se conformava fácil também. Tudo bem para ela se quase nunca se sentia bonita, ou capaz… Estava acostumada.
Ou, bem, costumava ser assim.
Conhecer Vernon e se envolver com ele, ter seu coração deslizando de uma só vez na direção dele, mudou as coisas. Mudava todos os dias. A fragilidade e insegurança de Vernon eram de uma crueldade que ela julgava pior que a dela, já que não se importava mais com tudo que achava estar errado em si mesma. Ele, bem, ele se importava, doía cada vez que ele se esforçava para fazer algo e, mesmo assim, achava que não tinha ido bem. E doía em ver, porque, para ela, sempre parecia perfeito.
Tudo que ele fazia sempre parecia perfeito.
— Seungkwan me ligou — murmurou, por fim, cuidadosa. — Ele disse que você se atrapalhou, esqueceu a letra… Não é nada demais. Todo mundo passa por isso, jagiya.
— Ele te ligou? — Vernon arqueou, surpreso, as sobrancelhas. não gostava muito de Seungkwan e nem ele dela, normalmente a implicância dos dois até lhe divertia, mas ele nunca viu como algo a comemorar. Exceto daquela vez, quando Seungkwan foi o único que presenciou sua crise estúpida depois de estragar tudo no show. Ele achou que o fato dos dois sequer se gostarem, malmente se tolerarem, significava que não saberia daquilo. Achou que o fato de ela ter chegado em casa algumas horas mais cedo fosse apenas uma coincidência, um infortúnio, não que Seungkwan houvesse, realmente, lhe dedurado para sua namorada. — Não era pra ele te ligar, não… Vocês nem se gostam. — Vernon fez uma careta, como se estivesse muito ofendido que os dois realmente conseguissem se comunicar sem maiores danos quando ele estava contando com outra coisa e mordeu o próprio sorriso.
Ele era adorável.
— Mas gostamos de você. Muito. — ela retrucou, como se fosse muito simples. — Ele pode ser um saco, mas é inteligente, notou que você precisava de mim…
— É verdade desde o dia em que nos conhecemos, mas não era pra você me ver assim… — ele reclamou, virando incomodado para o outro lado e dessa vez sorriu sem reservas, aproveitando-se do fato de que ele não via, enquanto passava uma das pernas sob sua cintura, lhe abraçando por trás. — Isso me faz sentir pequeno, precisar que alguém me abrace até passar ou… — ele se calou, sem nem mesmo ter certeza do que planejava dizer e apoiou o queixou em seu braço, assistindo enquanto ele balançava a cabeça, incomodado. — Quando eu faço algo errado, primeiro me sinto grande. Como um gigante abestalhado, porque parece que não há onde me esconder, por mais que eu queira sumir, todos vão ver, todos vão continuar vendo e me julgando… — Vernon suspirou, o movimento que seu corpo fez enquanto ele puxava e soltava o ar fazendo com que movesse um pouco a cabeça sob seu braço também. Ele olhou pelo canto do olho para ela. — Primeiro, eu me sinto anormal de tão grande, mas depois, quando consigo correr e fugir, meu coração bate tão, tão rápido, minhas pernas doem, minhas mãos coçam e eu até choro. Na maior parte do tempo, eu nem mesmo consigo formular um pensamento completo, algo que explique o choro, mas eu choro. E é aí que eu me sinto pequeno. Porque sei que o choro não vai passar, não vai passar por um bom tempo. É como se as lágrimas me tirassem todo o tamanho extra, toda a grandiosidade absurda, mas levassem também aquela altura que eu deveria ter, que não é anormal, que é só… Eu. E aí eu fico pequeno. — quando ele terminou de falar, lágrimas desciam silenciosas por seu rosto e pelo rosto de também, que rapidamente limpou o próprio rosto com as costas da mão, limpando logo em seguida o dele enquanto se movia na cama, de modo a fazer com que Vernon deitasse direito para poder, assim, ir por cima dele.
apoiou o queixo no peitoral do namorado e esparramou as pernas de cada lado de seu corpo, olhando em seus olhos. Por um instante, olhar em seus olhos, foi tudo que ela fez, sentindo cada parte de sua dor, de seu medo e sua insegurança. Ela sentiu tudo e desejou que aquilo fosse o suficiente, que pudesse simplesmente sentir por ele. Porque ela estava acostumada a sentir tudo aquilo, e sentia sem outras centenas de pessoas lhe julgando na internet, apontando cada um de seus erros. Não era assim com ele.
— Eu sei exatamente como você se sente. Não sei se vai acreditar nisso, mas eu sei. Eu sei, Vernon. — ela finalmente falou, deitando a cabeça em seu peito de modo a encostar a orelha em seu peito, concentrando-se em ouvir seus batimentos cardíacos. Em meio a todo aquele choro, aquela conversa pesada e triste, eles começavam a se acalmar e perceber aquilo fez sorrir, um sorriso pequeno, tímido, como a luz do sol surgindo, muito lentamente, depois de uma tempestade muito intensa ter escurecido o céu por várias e várias horas.
— Mas você é perfeita. — ele disse, como se aquilo não fizesse sentido nenhum e, sem que ele visse, ela sorriu. Ela não fazia barulho, mas as lágrimas continuavam a descer por seu rosto, embora o sorriso que ele lhe arrancou houvesse se posto em cada canto de seu rosto com uma firmeza admirável. Era aquilo que ele fazia com ela, afinal.
Ele lhe fazia chorar, porque não via o que ela via, mas, céus… Ele lhe fazia tão bem também. Porque, ás vezes, ela realmente conseguia acreditar que havia algo nela. Algo que ele via e ela não.
Eles, enfim, se completavam.
— Você é que é.
De alguma forma, o plano de deu certo e, em poucos dias, Vernon estava indo ao estúdio de Yoongi, ainda que sem saber muito bem por que. Suas mãos estavam molhadas de suor mesmo que ele as houvesse esfregado na calça inúmeras vezes tentando secar e seu coração batia num ritmo esquisito.
Quando Vernon e decidiram morar juntos, não ficaram no apartamento dela. Fez mais sentido que procurassem um lugar novo, algo que acomodasse as necessidades de ambos e foi assim que encontraram um apartamento perfeitamente adaptável aos dois no centro, perto do prédio da Pledis e com espaço o suficiente para que tivesse seu escritório, onde podia se concentrar e escrever sem distrações, e também para que Vernon pudesse montar seu próprio estúdio em casa. Não era grande coisa e ele nunca levava ninguém lá, trabalhava sozinho e malmente deixava ouvir suas composições, já que nunca julgava bom o suficiente para realmente mostrar por aí, mas, pelo menos, era uma válvula de escape, uma mais do que bem vinda.
Vernon não compunha e produzia porque queria, porque achava que era bom naquilo ou qualquer coisa sequer próxima disso, ele o fazia porque precisava. Havia aquela necessidade latente dentro dele de se despejar de alguma forma em algo, de colocar para fora seus sentimentos, tão urgentes e viscerais, que pareciam sempre prestes a devorá-lo e era por isso que ele ainda compunha, ainda produzia. Porque ele precisava.
É claro, no entanto, que não ia gostar. Como podia gostar daquilo que era a expressão mais verdadeira dele mesmo se não gostava dele?
Aquele, acima de qualquer outro, era o motivo pelo qual Vernon nunca divulgara nenhum trabalho solo para suas fãs. Era mais seguro, confortável, estar com seus companheiros de grupo. Portanto, não fazia sentido que ele enviasse seu material por aí, para outros produtores e compositores. Não tinha sentido e ele realmente não o enviou.
Mas, então, o que estava fazendo ali?
— Vernon-ssi, desculpe te fazer esperar. — a voz de Yoongi soou antes que sua linha de pensamento fosse muito mais longe e Vernon deu um pulo no lugar, curvando-se para a frente em seguida, como forma de cumprimentar o mais velho, que imitou a atitude imediatamente, parecendo se assustar com o movimento brusco do mais novo, que quase se encolheu ao notar isso.
Min Yoongi abriu um pequeno sorriso, fazendo sinal para que ele entrasse no estúdio.
— Anh, hm… — ele parou, incerto. Não tinha certeza de como devia chamá-lo.
— Pode me chamar de hyung. — Yoongi, ou Suga, como ele também era conhecido no meio em que trabalhava, abriu um pequeno sorriso na direção de Vernon, lhe encarando por sob o ombro enquanto o mais novo lhe seguia para dentro do estúdio. — Se quiser, é claro.
Vernon, novamente, apenas se curvou para frente, demonstrando gratidão pela consideração, ainda que não houvesse realmente encontrado coragem para lhe obedecer.
— Não tenho certeza de porque estou aqui. — ele, por fim, confessou, depois que Yoongi fez sinal para que ele se sentasse no sofá azul escuro encostado a parede, ao mesmo tempo em que ele próprio se sentava na cadeira giratória de frente para a mesa de som. Quando se sentou, no entanto, Yoongi girou com a cadeira, de modo a virar de frente para Vernon.
— Eu imaginei que não. — ele confessou, sorrindo mais abertamente em seguida. — Vou lançar outra mixtape no final desse ano, está quase pronta, na verdade, eu venho trabalhando nela há algum tempo, mas… Eu estava com essa impressão insistente que faltava algo. Então, encontrei sua demo e…
— Minha demo? Co-como? — Vernon lhe interrompeu, enrubescendo assim que notou o que fizera e balançando a cabeça. — Aish. Desculpe, eu…
Yoongi balançou a cabeça, indicando que ele não precisava se incomodar.
— . Sabe que ela e são melhores amigas, não é? — perguntou e, tímido, Vernon assentiu. Yoongi assentiu também. — Acredito que tenha sido obra das duas, mas não sei se isso importa muito. Gostei do que ouvi e queria saber se você quer trabalhar comigo numa música, para minha mixtape.
A simplicidade com que Yoongi falou não era ácida, não se tratava de impaciência ou qualquer coisa parecida, o que só serviu para confundir Vernon ainda mais. O motivo para tanta confusão, no entanto, era óbvio e não tinha a ver com o mais velho, só com ele. Só com suas inseguranças e as dolorosas certezas que vinham com elas: Não havia porque Yoongi querer trabalhar com ele. Vernon não tinha nada a oferecer.
— Anh… Quer trabalhar comigo? — Vernon lhe respondeu com outra pergunta, sem acreditar que entendera direito. Aquilo não fazia o menor sentido para ele, não importava o quanto tentasse entender.
O mais velho, porém, não ficou confuso por muito mais tempo. Yoongi havia passado por muita coisa, desde antes mesmo de seu debut com o BTS, e tanto quanto aprendera sobre as próprias emoções, sobre si mesmo, aprendera sobre os outros também. Depois de tantos anos convivendo com seus membros, que eram tão propensos a particularidades únicas de cada um deles, aquele aspecto de si apenas aflorou e Yoongi não tinha mais muita dificuldade em ler as pessoas ao seu redor. Vernon era inseguro, não via o que viu quando pôs sua demo nas coisas do namorado e, definitivamente, não via o que Yoongi notou tão rapidamente também. Ele não sabia dizer o que havia acontecido, o que em sua história levara Vernon a se sentir daquela forma, tão absolutamente certo que, ainda que aquilo fosse claramente sua paixão, o que ele decidira fazer pelo resto da vida, não havia jeito de ser tão bom quanto os outros achavam que ele era.
— Eu adoraria. — o mais velho, enfim, respondeu a pergunta quase retórica de Vernon, que, ainda assim, esperava por uma resposta, sorrindo simultaneamente. — Gosto do seu trabalho. É diferente da maioria das coisas por aí, e, posso estar errado, mas… Parece sincero. Eu ia gostar de ver o que a gente seria capaz de criar juntos, tenho algumas batidas, trechos de composições, podemos ver o que encaixa com o que você tem… — ele deu de ombros, tentando fazer a coisa toda parecer o mais simples possível, como se nada daquilo fosse tão grande quanto parecia na cabeça de Vernon naquele momento. — Me pareceu uma boa ideia. Aquela apresentação, a que você fez no MAMA há alguns anos, com o Dynamic Duo? Eu me lembro de como me senti entusiasmado vendo, achei que… — Yoongi continuou a falar, comentando sobre os pontos altos daquela apresentação, os versos que mais gostara no rap de Vernon, e comentando também sobre a demo que colocara em suas coisas. Sobre as letras, os arranjos… E, quanto mais ele falava, mais empolgado soava.
Vernon estava estupidamente surpreso, e se viu respondendo as perguntas do mais velho e concordando com quase tudo que ele dizia, realmente conversando com ele sobre a própria carreira, a própria arte. Ele chegou a corrigir Yoongi a respeito de uma ou outra interpretação que ele fizera de coisas que ele escrevera, mas, no geral, os dois pareciam estar em sincronia, suas artes pareciam se encaixar como peças de quebra-cabeça, deslizando juntas uma para a outra e formando algo maior, completo e bonito.
Yoongi contou a Vernon uma coisa ou outra sobre sua própria jornada como rapper e o mais novo ficou fascinado, sequer notou o tempo passar enquanto conversavam, falando sobre suas histórias e as histórias de quem veio antes deles, de quem os inspirou a fazer o que faziam. Conversaram sobre música como se tivessem intimidade pra falar sobre qualquer coisa, porque compartilhavam aquela paixão e aquilo acabou sendo o suficiente para que a conversa simplesmente fluísse. Aquele tipo de coisa não acontecia muito com Vernon, mas aconteceu naquela manhã, e, no fim, ele só notou que havia concordado em trabalhar com Yoongi numa música quando já estavam realmente trabalhando.
Com uma praticidade inesperada, porém lógica, em algum momento enquanto conversavam, Yoongi abriu uma gaveta em sua mesa e tirou de lá uns papéis, mostrando-os para Vernon. Eram rabiscos, trechos não necessariamente conectados do que pareciam ser letras de músicas. Vernon, automaticamente, sugeriu uma troca de palavras em uma das estrofes e Yoongi sorriu e bateu a mão em sua mesa, empolgado com aquilo. Ele concordou imediatamente com a alteração e Vernon acabou sorrindo sozinho enquanto ele rabiscava em cima da palavra que substituiriam, colocando a nova escolhida na linha de cima.
Se perguntassem a Vernon no que, exatamente, ele estava pensando quando puxou uma cadeira e se aproximou do computador enquanto Yoongi abria um programa de mixagem nele, o garoto sequer saberia responder. Sequer pensava, na verdade. Vernon se sentiu tão a vontade quanto não se lembrava de já ter sentido tão rápido com algum outro idol, ou qualquer pessoa naquele ramo e aquilo foi uma surpresa, de fato, incomparável.
— Você quer gravar esse trecho? Acho que combina com o seu estilo, vai ficar legal — Yoongi perguntou em algum momento, enquanto trabalhavam, apontando para o trecho do qual falava no papel e Vernon desviou, surpreso, o olhar do computador. Ele olhou primeiro para o papel, para o trecho que Yoongi apontava, e então para o mais velho, esquadrinhando seu rosto em busca de qualquer indicio de que aquilo era, na verdade, uma grande brincadeira.
— Eu?
Yoongi deu de ombros e assentiu, como se não fosse grande coisa. É óbvio que era, e como era, mas Vernon se pegou sentindo gratidão pelo modo como ele agiu, desviando novamente o olhar para o papel por um instante e então assentindo.
— Tá… A gente pode tentar assim e ver como fica, eu acho — murmurou, cauteloso, e Yoongi sorriu, assentindo imediatamente. Vernon se levantou e seguiu em direção ao cubículo com o microfone, praticamente de frente para a mesa de Yoongi, que lhe estendeu o papel antes que ele fosse.
Vernon, por reflexo, limpou as mãos na roupa e só então notou que elas estavam secas. A ansiedade normalmente lhe fazia transpirar, principalmente nas mãos, mas ele não estava transpirando naquele momento. Era possível que ele não estivesse ansioso? Ou, pelo menos, não tão ansioso que todos aqueles sintomas físicos e horrorosos pareciam prestes a lhe devorar? Ansioso apenas de modo saudável, com o coração batendo apenas ligeiramente mais rápido e não como se ele estivesse prestes a ter um ataque cardíaco.
Vernon só se sentia assim quando pensava em , em vê-la ou falar com ela.
Da primeira vez que gravou, Vernon não ficou satisfeito e perguntou se podiam ir de novo. Yoongi concordou e recomeçaram, mas nenhum dos dois gostou de verdade da segunda tentativa, então tentaram de novo mais algumas vezes, até que estivessem ambos satisfeitos com o resultado.
Min Yoongi era uma pessoa de aura tranquila e sorriso doce, e Vernon não sabia ainda, mas aquilo, suas particularidades, seriam cruciais para o mais novo na jornada que não notara ainda ter começado a percorrer. O mais velho era paciente, e sensível. Ele parecia saber de coisas que Vernon não sabia sobre si mesmo, lhe encarava de um jeito secreto que o mais novo ainda não havia aprendido a decifrar, mas não tinha problema. Ele ia aprender.
Não ia fugir daquilo, da chance de trabalhar com alguém que admirava e que realmente lhe fazia sentir a vontade, capaz. Vernon decidiu aquilo antes mesmo de trocarem de lugar e ele se sentar em frente a mesa de som enquanto Yoongi entrava no cubículo para gravar outro trecho da música na qual começaram a trabalhar juntos.
É claro que a música não estava pronta ainda, não tão cedo, mas gravar pedaços soltos era um instrumento realmente eficiente para chegar aonde precisavam. Se ouvir era o grande segredo na hora de gravar. Entender o que estavam dizendo para chegar no que precisavam dizer e, finalmente, em como queriam dizer.
Era daquele jeito que funcionava compor e produzir: Sem pressa, você escrevia um trechinho, de maneira despretensiosa, ou, pelo menos, fingindo falta de pretensão, e então começava a gravar, testar batidas, e, principalmente, ouvir. Era aquele o caminho, Vernon sabia bem, afinal já eram velhos amigos, ele e aquele caminho. Era familiar e confortável, como voltar para casa depois de muito tempo longe.
Quando Yoongi gravou sua primeira tomada, Vernon se sentiu ainda mais certo que queria fazer aquilo, que queria trabalhar com ele. Encarou entusiasmado enquanto ele se frustrava com algo que o mais novo sequer percebeu, pedindo para ir de novo. Vernon reiniciou a gravação e lá foi ele, fazendo seu trabalho como se aquilo não fosse trabalho, como se não fosse algo que sequer dava para explicar… Como se fosse só ele, uma parte dele que Yoongi derramava tão verdadeiramente ali, e nada mais.
E Vernon entendeu porque Yoongi era tão diferente, porque lhe fazia sentir capaz como mais ninguém em seu meio pôde. Porque eles tinham aquilo em comum: se despejavam completa e irrevogavelmente naquilo, em sua arte. Não faziam aquilo porque queriam ou porque gostavam, mas porque precisavam. Cada parte deles precisava de cada parte daquilo.
Com Yoongi distraído gravando e Vernon sentado de frente para a mesa de som, concentrado no trabalho do mais velho, nenhum dos dois notou, ao menos não de imediato, quando a porta de entrada do estúdio foi aberta e o restante da rapline do BTS surgiu de lá, fazendo um verdadeiro escândalo diante do trechinho que puderam ouvir da gravação de Yoongi, vibrando pelo amigo, que fizera um trabalho tão bom.
Yoongi caiu na risada diante da brincadeira dos amigos, o que estragou a gravação, mas ninguém pareceu ligar e, no fim, Vernon decidiu salvar a tomada mesmo assim. Todo o resto havia ficado bom, afinal.
— Ei, o que estão fazendo aqui?! — o mais velho perguntou, surpreso, olhando de Hoseok para Namjoon, que deram de ombros.
— Estávamos passando… — Hoseok murmurou, de modo nada convincente, e Yoongi arqueou as sobrancelhas, sem acreditar nele nem por um instante.
— Ah, é? — retrucou, humorado — Aposto que vocês só queriam conhecer o namorado da .
— A gente o conhece, ele é do Seventeen. — Namjoon devolveu, como se aquilo fosse óbvio, e Vernon corou, olhando de Yoongi para os outros dois e Hoseok sorriu, como se Namjoon houvesse lhes salvado de uma vergonha sem precedentes.
Bem que ele queria.
— Engraçadinho. — Yoongi retrucou simplesmente, não se dando ao trabalho de levar aquela discussão muito mais a frente. — Vernon-ah, esses são Namjoon e Hoseok. — ele apontou de um para o outro e os três garotos se cumprimentaram.
— Então, você é o namorado da . — Namjoon murmurou, numa constatação ridiculamente óbvia, e levou uma cotovelada na costela por isso.
— Não seja indiscreto. — Hoseok reclamou e Yoongi olhou de um para o outro desacreditado, escondendo em seguida o rosto nas mãos e balançando a cabeça. Que vergonha.
— é uma boa amiga, isso que você está vendo é só preocupação com o bem estar dela. — Yoongi se explicou pelos outros dois para Vernon, que, corado, conseguiu apenas assentir. Namjoon agora também estava envergonhado, parecendo só ter notado o que fizera depois da reclamação de Hoseok, o que é claro, só lhe constrangia ainda mais. Ele era o líder do grupo, preferia saber o que falar e fazer sempre que possível e, bem, não constranger ninguém no processo.
Vernon se viu obrigado a falar alguma coisa.
— Eu entendo. — disse por fim, mesmo que talvez não entendesse. Ok, entendia. Mas era péssimo, já que nem mesmo um dia se passava sem que ele se perguntasse como fora capaz de conseguir alguém como , e, ter os amigos dela ali, basicamente julgando se ele era bom o suficiente para ela, mesmo quando Vernon tinha certeza que não, não era, ou seja, estava ferrado. — Ela é… É uma garota muito especial. Tudo bem se preocupar com ela. — ele decidiu, repetindo para si mesmo que pensava o mesmo dele e, supostamente por isso, seu relacionamento funcionava. Viam o que o outro não via em si.
— Certo, certo, mas esse cara… — Yoongi começou, repuxando os cantos dos lábios num sorriso enquanto apontava para Vernon — É bem incrível também. Sério, vocês tinham que ver o que a gente trabalhou hoje. — afirmou, um instante antes de começar a falar sobre a música na qual começaram a trabalhar naquele dia. Vernon estava corado outra vez, assistindo enquanto Hoseok e Namjoon pareciam fazer todas as perguntas certas, fazendo os olhos de Yoongi brilharem enquanto ele os respondia e, de repente, os três eram uma só linha de pensamento, completando as falas uns dos outros e rindo, empolgados, toda vez que acontecia.
E o melhor de tudo? Vernon sentia que acompanhava aquela linha de pensamento também. Ele não falava nada, é claro, tímido demais para realmente se impor na conversa dos mais velhos, mas estava feliz de assistir e aquilo, por si só, já fazia com que ele se sentisse parte da mágica que acontecia ali também.
Logo, os quatro rappers estavam sentados, espalhados entre sofá, poltronas e a cadeira giratória perto da mesa de som, sem que sua linha de pensamento parecesse sequer perto de cessar.
Foram interrompidos de novo, no entanto, não muito depois, quando a porta do estúdio foi novamente aberta. Dessa vez, apenas uma figura adentrou ali, a mesma que sempre fazia o coração de Vernon acelerar daquele jeito tão saudável. A única que fazia seu coração disparar de modo realmente saudável, na verdade.
.
Ela corou assim que os quatro pares de olhos pararam nela e Vernon acabou sorrindo por isso, acenando timidamente em sua direção com a cabeça. A garota piscou, desconfortável, e acenou de volta. Se bem conhecia a namorada, Vernon podia dizer com tranquilidade que faltava muito pouco para que ela se encolhesse de vergonha.
— Oi. — a garota murmurou, num fio de voz, antes de acenar com a mão na direção dos outros três garotos. — Não achei que tivesse tanta gente aqui.
— Oi, . — Yoongi riu, se pondo de pé e curvando-se para frente para cumprimentá-la. Rapidamente, o imitou, arrancando outro sorriso de Vernon pelo modo atrapalhado como fizera. — Hoseok e Namjoon chegaram a pouco tempo, na verdade. Você veio pegar o Vernon?
assentiu, ainda tímida.
— Uhum.
— Bom, então, eu te ligo e a gente marca pra continuar a produção da música? — Yoongi questionou, virando-se para encarar Vernon, que rapidamente se pôs de pé e concordou com a cabeça, agradecendo-lhe e se curvando para frente, fazendo com que Yoongi rapidamente fizesse o mesmo, surpreso com a atitude tão formal de repente. — Bom, então é… Vejo você em alguns dias, Vernon-ah. Bom trabalho hoje.
— Obrigado, hyung. — Vernon murmurou, se curvando em seguida para Namjoon e Hoseok a fim de se despedir deles também e os outros dois rapidamente se puseram de pé e imitaram o cumprimento.
Era uma cena realmente cômica, vista de fora. Os garotos do BTS estavam atrapalhados, confusos, e Vernon atrapalhado pela própria timidez, que nunca falhava em fazer aquilo com ele.
Por fim, seus dedos se entrelaçaram aos de e ele se sentiu seguro outra vez, soltando o ar que nem notou que prendia antes de saírem juntos do estúdio de Min Yoongi.
estava prestes a abrir a boca para perguntar como foi, quando a porta foi novamente aberta e um Hoseok esbaforido saiu de lá, sua pressa, no entanto, se esvaindo no instante que seu olhar encontrou o de , que franziu o cenho, sem entender nada.
— Hope?
— Hm… Deixa pra lá — ele sorriu amarelo, prestes a dar as costas e voltar para o estúdio, quando riu, entendendo o que ele queria num estalo. Aquilo tinha a ver com .
— Ela volta hoje, Hope. De madrugada, ela chega no aeroporto entre 03 da manhã e 03 e meia. Que dia vocês marcaram? — ela perguntou, arqueando as sobrancelhas quando o mais velho desviou o olhar, enrubescendo de maneira cômica. Vernon conhecia , é claro, mas não conhecia Hoseok, exceto pelos breves cumprimentos que trocaram em premiações antes daquele dia, e não fazia ideia de que tipo de relação ele tinha com a melhor amiga de sua namorada. Até agora.
Até Vernon, que não era lá a mais rápida das criaturas, foi capaz de entender sem maiores dificuldades do que se tratava aquilo.
— Amanhã a noite. — Hoseok finalmente contou, num fio de voz, e sorriu largamente, batendo palminhas.
— Yay! Vocês vão se adorar, tenho certeza — ela falou, animada — Só precisa ser você mesmo, Hobi. Você é exatamente o tipo dela.
Hoseok sorriu em agradecimento pelo comentário lisonjeiro e assentiu para suas palavras, não falando nada de imediato, mas, ainda assim, notou que ele queria falar algo mais.
— -yah disse que ela não estava muito certa… Ela vai cancelar, ? — ele, enfim, perguntou, depois de algum tempo encarando uma , tão paciente quando incisiva. O tipo de olhar que só podia lançar, embora ela não soubesse que podia. Vernon adorava aquilo nela, quão desavisada ela era a respeito das próprias habilidades.
— Eu jamais deixaria. — garantiu, piscando para o garoto e rindo quando ele suspirou em alivio, se curvando em agradecimento em seguida.
— Obrigado, .
— Por nada, Hope. A gente se vê.
Ele assentiu e acenou timidamente para Vernon antes de praticamente correr para dentro do estúdio, provavelmente ciente demais que Yoongi e Namjoon esperavam por ele lá, preparando todo tipo de piadinha. Afinal, não havia muita coisa que deixava Hoseok daquele jeito, nervoso e abobado. Não havia muita coisa, mas , com certeza, era uma delas, das poucas coisas.
— Uau. Ele e a noona? — Vernon perguntou, surpreso e riu pelo namorado ter usado aquele termo para se referir a sua melhor amiga.
— Por favor, chame-a de noona da próxima vez que vê-la, eu imploro. — choramingou, já imaginando o ataque que teria, já que amava tanto o posto de maknae que possuía e Vernon apenas riu, balançando a cabeça, então voltou a entrelaçar seus dedos para saírem dali. — Como foi seu dia? — quis saber depois de descerem o elevador, já caminhando para a saída do prédio.
Vernon olhou de lado para a namorada por um instante, sentindo o coração encher com uma sensação nova, definitivamente boa, mas nova.
— Foi bom. — ele murmurou, com toda sinceridade, e sorriu, satisfeita por isso.
— Acha que vai voltar? — perguntou e o mais novo assentiu, mas não falou nada dessa vez. não se importou, muito ciente de como as coisas funcionavam com Vernon. Um passo de cada vez, sem pressa e sem se assustar com passos para trás. Levava um tempo. Tudo com ele, levava um tempo. — Fico feliz por isso. Vai me mostrar essa música quando ficar pronta? — ela tentou uma última vez, embora duvidasse que ele fosse concordar com a ideia. Vernon nunca mostrava nada do que fazia para ela, nunca mostrava a ninguém.
O garoto ergueu o olhar para ela outra vez, seus olhos, assumindo um tom belíssimo de âmbar sob a luz do sol naquele momento, enquanto andavam na rua em direção ao carro de , quase fizeram com que ela parasse de andar. Era como se ele realmente pensasse na possibilidade, cogitando de fato a ideia de mostrar a o que quer que fosse aquilo no que passara o dia trabalhando com Yoongi. amou notar aquele pequeno progresso.
— Eu quero. — ele confessou, bem baixinho — Não sei se vou, porque eu sempre acho que você merece mais do que qualquer coisa que sou capaz de fazer, mas eu quero que veja. Eu espero parar de sentir que não posso, que não posso me mostrar a você. — acrescentou, sem desviar o olhar dela em momento nenhum enquanto falava e dessa vez realmente parou de andar, as mãos de Vernon ainda segurando as dela e os dele, tão intensos e quentes, sob os dela também.
A sinceridade pegara de surpresa e ela mal teve tempo de abrir a boca e retrucar que gostaria de qualquer jeito do que quer fosse, piscando e vendo Vernon desviar o olhar para os próprios pés, sem jeito. Aquilo lhe obrigou a limpar a garganta e tentar adiantar uma fala, qualquer uma.
— Tudo bem. — disse por fim, como se entendesse. Não tinha certeza se entendia, mas queria. E queria que ele se sentisse bem com aquilo, com aquele novo trabalho, para lhe mostrar o que era. O melhor jeito de tentar ajudar era não pressioná-lo e permitir que ele desse o melhor de si naquilo sem que ela fosse um empecilho. — Eu espero que possa também. — sorriu e Vernon lhe abraçou, beijando o canto de sua boca antes que seguissem até o carro dela. Quando Vernon fez menção de soltar sua mão, no entanto, para dar a volta no carro e entrar no banco do passageiro, segurou seus dedos uma última vez, fazendo com que ele lhe encarasse. — Eu amo você. Pra mim, você é perfeito, Vernon. Espero que, acima de tudo, isso te ajude a ver o que eu vejo também. Pelo menos um pouquinho.
Vernon não respondeu, desviando o olhar para seus dedos juntos e então de volta para o rosto da namorada, assentindo e sorrindo pequenininho para ela antes de finalmente desfazer o aperto de seus dedos para seguir até o outro lado do carro.
assentiu, mais para si mesma do que para ele, e com uma sensação que não sabia explicar, embora inegavelmente boa, entrou no carro também.
Chovia forte do lado de fora. Bom, não só chovia. Trovões soavam enfurecidos, quase fazendo com que os residentes sul-coreanos pudessem sentir o chão tremer aos seus pés simultaneamente ás rojadas intensas, que eram o único intervalo entre os relâmpagos que surgiam como um clarão a todo instante.
O vento soprava muito forte também, era uma tempestade digna de grandes produções cinematográficas, de fato. Aqueles que não estavam em casa, teriam problemas, pois a situação era de total confinamento: Ninguém entra, ninguém sai. Ninguém se move, na verdade. Não tinha como, a natureza não permitiria.
Por sorte, Vernon e aproveitavam o dia, inesperado, de folga em casa. Para eles, a chuva não era qualquer incomodo, devidamente escondidos debaixo do edredom de sua cama, assistindo o final do capítulo de um dorama que Vernon não lembrava o nome. o convencera a acompanhar a trama junto com ela, mas Vernon nunca se lembrava do que acontecera no capítulo anterior quando iam para o próximo, já que sequer viam o programa de entretenimento com uma frequência aceitável.
— Ai… É muito errado desejar que a tempestade dure pra sempre? — resmungou, rolando de maneira preguiçosa na cama e arrancando um sorriso igualmente preguiçoso do namorado, que esticou o braço e a puxou de volta para perto de si antes que ela caísse, o que seria, na verdade, bem típico dela.
— Provavelmente — ele murmurou, rindo quando ela fez bico, encostando a cabeça em sua perna. Vernon estava sentado com as pernas esticadas na cama, enquanto estava deitada, ou bem, esparramada. — Mas eu entendo.
A garota sorriu ao ouvir. Sempre podia contar com ele para lhe entender e, ali, olhando para os seus olhos em meio ao ruído da chuva lá fora, se sentia calma. Ela se sentia como se nada pudesse lhe abalar, forte e implacável como a tempestade lá fora.
E não era de sentir aquele tipo de coisa.
Se tivesse que chutar qual estação seria, achava que seria a primavera, ou, talvez, o outono. As estações de meio-termo pareciam combinar com ela, com sua mania de podar a si mesma porque, para ela, estava sempre errada. Bom, exceto com Vernon. Vernon lhe fazia sentir diferente, tão intensa e segura, que podia se derramar inteira nele – como a tempestade lá fora – e tudo bem, porque o amor que ele demonstrava sentir por ela toda vez que olhava em seus olhos era o suficiente para ter certeza, uma certeza que nem sabia ser capaz de sentir, que o que quer que tivesse para derramar, era bom. Podia se derramar sobre ele e seria bom.
Ou, podia simplesmente ir ainda mais longe, demonstrar uma ousadia ainda maior, e ser o verão. Os dias quentes, o sol. O astro mais brilhante de todos, tornando toda a estação sobre si.
podia ser o inverno, a tempestade intensa do lado de fora, ou podia ser o sol, com sua imponência majestosa. Mas não o tempo todo, não com todo mundo. Para Vernon e apenas com Vernon.
— Você se lembra do nosso primeiro beijo? — ela perguntou com aquela, entre tantas, lembranças, de repente rebobinando, de novo e de novo, em sua mente.
Vernon assentiu, os fios acobreados de seu cabelo brilhando mesmo sob a pouca luz.
— Como se fosse ontem. — ele murmurou, com um sorriso na voz, que persistiu em seu rosto quando ele terminou de falar e puxou sua mão para si, beijando as costas da mesma, optando por aquilo ao invés de beijar sua boca e desmanchar o sorriso dele. Amava tanto aquele sorriso.
— Você se lembra quem beijou primeiro? — ela perguntou, ainda com o momento indo e vindo em sua cabeça. Se lembrava do beijo, das coisas que disseram antes, e depois também. Ela também se lembrava de cada movimento que levara ao toque de suas bocas, mas não conseguia lembrar qual dos dois cessou a distância entre elas. Aquele era um tópico engraçado, afinal, não era como se nenhum dos dois fosse exatamente bom nisso. Cessar distâncias e tal.
— Anh… — Vernon parou, rindo sem graça ao notar que não, não lembrava. — Deve ter sido você.
— Eu?! — reclamou, com a voz esganiçada, mesmo que fizesse mais sentido ter sido ela do que ele. Ela só gostava de fingir indignação quando ele agia daquele jeito, como se qualquer um, ela inclusa, pudesse fazer tudo que quisesse, exceto ele. — Não acho que tenha sido eu. Acho que foi você. — ela empinou o nariz, fazendo o mais novo rir antes de se inclinar sob a cama e roubar um beijo na ponta do mesmo.
— Acho que nunca vamos saber, não é mesmo?
Ela riu, concordando e o puxou de volta para si quando o garoto fez menção de se afastar e arrumar a postura, não permitindo que ele se afastasse e levasse aqueles lábios que ela amava tanto para longe. Vernon mordeu o lábio inferior diante de sua atitude e beijou seu queixo, fazendo fechar os olhos quando subiu e beijou sua bochecha, depois, do outro lado, mais perto da boca.
— Vernon… — começou, com os lábios dele agora perto demais para que ela não terminasse simplesmente soprando as palavras em sua boca. — Mesmo que tenha sido eu, foi porque era você. Eu não teria beijado primeiro se não fosse… É tudo por você. — ela finalizou, vendo os lábios de Vernon se repuxarem num sorriso que, no entanto, não foi firme o suficiente para resistir ao encontro de seus lábios.
Na fração de segundo que beijou seu sorriso, antes que sua língua entrasse em sua boca e fizesse todo seu interior ganhar vida, ela pensou outra vez em como gostaria que aquela tempestade nunca passasse. Mas, então, parou de pensar.
Aquela sensação não era exatamente familiar. Vernon não estava acostumado, nem de longe, a satisfação tão genuína que lhe invadiu quando viu o arquivo de áudio terminar de carregar.
A música estava pronta. E Vernon gostara tanto dela.
— Yoongi hyung, eu realmente gostei disso. — ele murmurou, baixinho como se não soubesse que tipo de consequência pudesse vir daquilo, de realmente gostar de algo que fizera. Yoongi olhou por sob o ombro em sua direção, sorrindo pequeno.
— Eu também — falou, assentindo com a cabeça em seguida. — Você trabalhou duro, Vernon-ah. Fez muito bem.
— Hm… Você também — Vernon murmurou, sem jeito. Ele nunca sabia como reagir a elogios, normalmente apenas se desvencilhava deles seguindo a lógica de que a pessoa que o elogiara cometera um equivoco e se apressando em corrigi-la, explicando que ele não era aquela pessoa, a pessoa digna dos elogios dos quais ele se desvencilhava. Daquela vez, no entanto, ele sequer sentiu qualquer ímpeto de fazê-lo. Claro, assim que notou tal coisa, o ímpeto apareceu, mas Yoongi voltou a falar antes que ele estragasse tudo abrindo a boca outra vez.
— Vernon-ah, tem uma coisa que quero falar com você. — o mais velho anunciou, girando a cadeira sob seu eixo de modo a virar de frente para Vernon, que estava sentado perto dele, já que poucos minutos atrás ambos estavam de olho no computador, esperando ansiosamente o fim do upload da música na qual vinham trabalhando nas últimas semanas. Vernon apenas encarou Yoongi, esperando que ele falasse. — Não quero correr o risco de abrir espaço para que você me interprete errado aqui, então vou tentar ser o mais claro possível. Você é bom, Hansol. De verdade. Eu não conheço muita gente com o potencial que você tem, sério. O único problema é que… Você não acredita nisso. Me lembra muito o jeito que eu era quando tinha sua idade, e, pra falar a verdade, é uma luta. Não ser assim, não duvidar de tudo que a gente faz o tempo todo, nem se sentir cansado, sozinho e errado o tempo todo. Eu juro que sei. — Yoongi parou para respirar fundo, parecendo distante por um breve instante, como se pensasse naquilo, nele mesmo quando tinha a idade de Vernon, em sua própria luta e seus próprios sentimentos. — Meu ponto é que, justamente por acreditar que entendo o jeito que você se sente e que vê as coisas, acho que preciso fazer esse apelo. Não desista da sua arte, ninguém pode fazer o que você faz como você faz e isso já uma vantagem só sua, que as pessoas podem tentar, mas não vão tirar de você. Ninguém vai, só você tem essa capacidade. E eu acho que já está fazendo isso, mesmo sem querer.
O rapper mais novo não respondeu, engolindo em seco e desviando o olhar para os próprios joelhos parcialmente cobertos pelos jeans rasgados sem realmente procurar olhar para qualquer ponto especifico ali. Ele só não queria olhar para Yoongi, sentindo-se acuado, muito provavelmente porque sabia que ele estava certo.
Vernon estava fazendo exatamente aquilo. E já tinha bastante tempo.
Céus, tinha tanto tempo e era tão verdadeiro que sua namorada e a melhor amiga se sentiram na obrigação, ou algo assim, de armar um encontro, ou algo assim, entre ele e Yoongi para que as águas mudassem, a corrente soprasse na direção oposta aquela, que sempre terminava com Vernon escondendo tudo que criava porque, para ele, era apenas lixo.
Ele ergueu silenciosamente o olhar para Yoongi, que esperava pacientemente, abrindo um sorriso pequenininho, compreensivo e acolhedor como um abraço, em sua direção quando seus olhos se encontraram.
— Eu não sei como mudar. — Vernon confessou, baixinho. Aquela era uma conversa, uma situação, subjetiva demais, afinal. Ele adoraria que tivesse uma receita para isso, para lidar com as próprias inseguranças e aniquilá-las, mas não havia e Vernon sabia. O que o rapper não notara, no entanto, era que já dava um passo na direção da mudança quando confessou de maneira trêmula o que confessara para o mais velho. Porque ele pensara em mudar, coisa que Vernon não era exatamente conhecido por fazer. Normalmente, ele simplesmente assumiria que nada do que Yoongi dissera tinha sentido simplesmente porque ele não era aquela pessoa, aquela pessoa com potencial, talento, que o mais velho achava que ele era. Mas, bem, naquele momento… Parecia que, sem perceber, Vernon aceitou que sim? Ele era?
— Eu não tenho uma receita pra você, não sei como pode começar, porque essas coisas não acontecem do mesmo jeito pra todo mundo, cada um tem seu caminho. O que eu sei, porém, é que, as vezes, pode parecer que toda a gravidade está trabalhando apenas na gente, que somos os únicos sendo constantemente puxados lá pra baixo, e que fica difícil notar o quanto realmente valemos nesses momentos, mas precisa se manter firme mesmo assim. Você e eu temos sorte, sabe. A gente tem coisas que poucas pessoas como nós têm, — enquanto falava, Yoongi pescou o celular do bolso, desviando o olhar para o aparelho por tempo suficiente apenas procurar o que queria, mostrando em seguida a Vernon sua timeline do twitter, com várias mensagens de fãs expressando amor pelo BTS, por cada um dos membros e por seu trabalho. Vernon sorriu minimamente e Yoongi imitou. — Você tem fãs também, pessoas que te apóiam e acreditam incondicionalmente em você. E não só aqui na Coréia, em todo lugar. Então, tem que se perguntar, se foi tão fácil assim pra elas, se apegar a você, decidir que você valia a pena, merecia o amor e afeto delas, porque é tão difícil pra você?
— Elas não conhecem o nosso meio, hyung. Não como a gente, por mais verdadeiros que a gente tente ser com elas, é… É complicado. Ser um idol na Coréia, por si só, é difícil e você sabe, ser um rapper, então… Tem tantas armadilhas, tantos truques… — ele não olhava para Yoongi enquanto falava, sem sequer se dar conta que nunca falara daquilo com ninguém, não daquele jeito, tão abertamente. Era como se seus olhos estivessem vendados durante toda aquela conversa, mas, sem se dar conta, ele caminhava na direção certa mesmo assim. — Eu simplesmente não sei se tenho o que é preciso. E eu não sou daqui, então por mais que me sinta muito mais coreano do que americano, eu não… Não sou visto desse jeito. Para as pessoas daqui, eu nunca vou ter sucesso fazendo rap como um coreano porque não sou um, não de verdade. E talvez eu concorde com elas, talvez alcançar um ponto em que eu tenha sucesso o suficiente para me sentir seguro a respeito do que estou fazendo seja só… Uma ideia bonita, mas inalcançável. Como aqueles cenários que os testes do BuzzFeed montam pra gente. — Yoongi acabou rindo fracamente da comparação no final de seu discurso e então balançou a cabeça, dando leves tapinhas no ombro do mais novo.
— Hansol, você tem. — ele murmurou, com uma certeza que fez com que Vernon franzisse o cenho, com uma interrogação tomando seu olhar quando o ergueu para o mais velho e o viu sorrir levemente. — Você tem exatamente tudo que precisa. Eu tenho certeza.
— Como… ?
— Eu só tenho. — o mais velho deu de ombros, confiante. — Todas as preocupações que você tem estão te atrasando, mas elas também fazem parte de quem você é. Tornam você mais sensível, mais como um rapper que tem muito a dizer. E devia parar de ter medo de dizer, coloque tudo que me disse e tudo que não disse também numa música, dê de presente para suas fãs e eu prometo, vai ficar tudo bem. Você só vai receber a confirmação de tudo que eu falei: Você tem o que é preciso e não está sozinho. Muita gente acredita em você e te apóia muito também.
Vernon ficou sem palavras. Quase abrindo a boca para respondê-lo com objeções várias e várias vezes, mas sendo impedido por um instinto desconhecido. E era a primeira vez que aquilo acontecia. Normalmente, Vernon era bom em encontrar motivos para provar seu ponto quando seu ponto era aquele, que não estava nem perto de ser bom no que fazia, mas, naquele momento, algo diferente aconteceu: Ele ficou sem palavras.
E aquilo foi o mais perto que ele já chegara de acreditar quando alguém dizia que ele era bom. Um incômodo pesou no peito de Vernon simplesmente por ter ficado mudo tão repentinamente, porém, aquela fora só outra coisa que ele notaria mais tarde sobre aquela conversa: O tal incomodo era, na verdade, o inicio de algo bom. Algo muito bom.
Vernon e deixaram o apartamento de logo cedo, quando acordaram. passara o dia indisposta, com enxaqueca resultante da ressaca e dores no corpo, de modo que mal saíra da cama. Vernon quis deixá-la à vontade e passara a maior parte da tarde vendo TV na sala, porém quando já começava a anoitecer recebeu um email encaminhado de Yoongi, estreitando os olhos para a tela do celular enquanto absorvia o que o email dizia. Yoongi encaminhara para ele o email que recebera de sua companhia a respeito das músicas que ele enviara para aprovação, para a mixtape.
Todas as músicas foram aprovadas, incluindo a música com Vernon.
A única coisa que Yoongi dissera no email encaminhado foi: Eu disse que você era bom, e Vernon acabou sorrindo sozinho diante daquelas palavras, lembrando-se da conversa que tiveram no dia anterior, no estúdio dele.
Talvez ele fosse bom. Talvez ele pudesse acreditar naquilo um dia. Um dia…
Num sobressalto, Vernon sentou-se no sofá, toda sua conversa com na noite anterior, antes de dormirem, voltando de uma só vez, repassando em sua cabeça como se fosse tudo no que ele tinha permissão para pensar agora. Nada mais, apenas aquela conversa.
Eu prometo tentar se você tentar também.
Aquilo não era mais sobre ele e, em meio a um surto de certeza ao qual, nem de longe, Vernon estava acostumado, o garoto se pôs de pé, correndo em direção ao quarto que dividia com a namorada e quase caindo no percurso, graças ao modo como as meias derraparam no chão. Por sorte, Vernon conseguiu se segurar na porta do quarto no último instante e se endireitar no lugar, só então abrindo a porta do quarto.
— ? — ele chamou, colocando, lentamente, a cabeça para dentro, e a garota resmungou qualquer coisa inteligível, se remexendo na cama sem abrir os olhos. Vernon a conhecia o suficiente, no entanto, para saber que ela não estava dormindo. Se estivesse, sequer teria escutado ele chamar, visto que ele nem sequer levantara a voz para fazê-lo. — , estou pronto. — Vernon murmurou, lhe chamando outra vez, ao se aproximar da cama.
— Hm… Quê? — a garota questionou, confusa, abrindo apenas um dos olhos, franzindo o cenho ao notar o sorriso no rosto do namorado. — Vernon, o que… ?
— Estou pronto. Vem, levanta. – ele chamou, estendendo a mão para a garota, que olhou estranho de sua mão para seu rosto, sentando-se na cama e bocejando.
— Pronto pra quê?
Vernon sorriu mais antes de responder, com o coração pulsando forte no peito.
— Estou pronto pra te mostrar uma música, talvez até duas — ele riu e piscou, sem entender mais coisa alguma. Ainda assim, não ousou perguntar mais nada, se pondo de pé e rindo quando Vernon praticamente lhe arrastou em direção ao estúdio.
Vernon colocou sentada na cadeira de frente para a mesa de som e lhe entregou seu headset para que ela o posicionasse sob a própria cabeça também, sorrindo quanto ela o fez. sorriu apenas porque ele não parava de sorrir, ainda sem estar completamente situada naquele momento totalmente novo. Ela entrara naquele estúdio pouquíssimas vezes, que dirá se sentar ali, em frente a mesa do som do namorado, com seu headset.
— Estou pronta. — a garota falou, sorrindo, quando ele escolheu uma música, mas não deu o play.
— Preciso falar uma coisa antes. — Vernon retrucou, como se reclamasse de sua impaciência e mordeu o lábio, assentindo. De repente, se sentia completamente apaixonada enquanto olhava para ele e nem sabia por que dessa vez. Só sabia que ele era a coisa mais linda que já vira. — Ontem você me prometeu que, se eu tentasse, tentaria também. — ele começou, fazendo sinal para que ela esperasse quando abriu a boca, quase que de imediato diante de suas palavras, para retrucar o que quer que fosse. — Bom, eu amo você, . E podia só repetir tudo que disse ontem, sobre as coisas que sentimos, porque seria muito mais fácil, já que eu nem sei se vou obter êxito com o que estou tentando fazer aqui, mas isso não nos levaria a lugar nenhum, não é mesmo? Eu… Eu decidi começar a tentar. Então, você precisa começar a tentar também. Porque eu não posso mais suportar que você não veja nada do que eu vejo, que não saiba quão perfeita você é…
— Vernon…
— Não, olha… Não é só isso, eu juro. — ele riu, sabendo como soava. E a conhecia o suficiente também para saber o que ela diria se ele deixasse. — O mais inacreditável é que não é só isso. Não é só por você. Eu… Hoje eu acreditei, pela primeira vez, que poderia acreditar um dia que eu sou tudo, ou pelo menos um pouco, do que você diz que eu sou. Então, é por nós dois também. Quem sabe, talvez um dia eu e você vejamos a mesma coisa, não só um sobre o outro. — ao finalizar, Vernon deu de ombros de maneira desajeitada e balançou, desacreditada, a cabeça, colocando o headset de lado e se pondo de pé para abraçar o namorado, fazendo com que ele risse quando terminou por encher seu rosto de beijos. — ! — ele reclamou entre risos e ela sorriu largamente, olhando em seus olhos.
— Tudo bem — concordou, acenando positivamente com a cabeça várias vezes — Tudo bem, eu faço isso. Eu vou tentar.
— Pra valer? — ele questionou e ela sorriu, com os olhos lacrimejando fortemente.
— Pra valer. — prometeu.
A verdade, afinal, era que ainda que não enfrentasse as próprias inseguranças do modo que Vernon fazia, não se expunha a elas, aos seus medos, nem um por cento do quanto ele o fazia, ela acreditava nele. Acreditava tanto nele que, se ele via algo nela, se ele via algo sequer parecido com o que ela via nele, então ela podia ver também. Se tentasse o suficiente.
E, céus, como ela queria ver. No fundo, era tudo que ela queria, afinal, e naquele momento, olhando nos olhos do namorado, ela sentiu que veria. Que seria capaz se tentasse para valer e não parasse. E ela faria exatamente aquilo.